Como dirigir uma equipe de criação à distância

Nestes tempos malucos de pandemia, comecei a lembrar e, depois, listar uma série de atitudes que hoje são para mim tão naturais que nem percebo que estou trabalhando em casa por tanto tempo. A história começou há mais de um ano, quando decidi aceitar o desafio de coordenar uma equipe que, em sua maioria, estaria […]

Por Rodrigo Telles
Publicado em 13/08/2020

Nestes tempos malucos de pandemia, comecei a lembrar e, depois, listar uma série de atitudes que hoje são para mim tão naturais que nem percebo que estou trabalhando em casa por tanto tempo. A história começou há mais de um ano, quando decidi aceitar o desafio de coordenar uma equipe que, em sua maioria, estaria em Joinville, Santa Catarina, morando em São Paulo.

Mas e agora? O que fazer? Como vou direcionar essa galera sem dar aquela espiada básica no monitor? Sem soltar uma ideia ao vento e ver se alguém a pega e me ajuda a desenvolver? Sem os cafezinhos, apesar de não tomar café? Almoços que eram quase como uma reunião de brainstorming? Enfim, sem o contato próximo e presencial a que estava acostumado em minhas outras tantas experiências.

E esse contato eu prezava. E muito. Ainda prezo, mas a realidade que se desenhava estava me “tirando” isso tudo. Ainda mais eu, que sempre gostei de saber como cada funcionário estava, perguntando sobre a vida, time de futebol, política. Provocando-o por ideias novas, tudo ali, naquele momento, rápido, sem perda de tempo em agendar uma reunião.

Pensei: “bom, vamos encarar”. Qual foi uma das primeiras coisas que fiz quando entrei na empresa? Pegar um avião e ir direto para Joinville. Eu simplesmente precisava, e achava natural, conhecer todos ao vivo, olhar no olho, saber o que faziam nas horas vagas, que música ouviam, seus trabalhos anteriores. Tudo para conhecê-los “melhor”.

Aqui, em São Paulo, pessoas maravilhosas me acompanham no dia a dia. E por isso, ainda tinha todas as interações, mas com a pandemia, todos nós ficamos online. Toda minha equipe agora mora no Google Meet e Chat.

Comecei, então, a encarar a realidade – que é mais virtual do que nunca. Demorei algumas semanas até achar o ritmo, a dinâmica da coisa. Passei a entender que, mesmo através da câmera do laptop, ainda tem o olho no olho, a conversa jogada fora, o encontro casual. A diferença é que sempre precisava haver um convite, mesmo que rápido, por escrito.

Logo depois que entrei na agência, era época de dar o feedback aos colaboradores. Pensei: “não tenho como fazer isso, óbvio, acabei de entrar na empresa”. Mas aproveitei a oportunidade para entrar em contato com toda a equipe novamente, agora já na nova realidade, buscando treinar esse relacionamento virtual. Desde então, venho trabalhando à distância, e isso me trouxe experiência para enfrentar essa pandemia doida, que nos força a ficar em casa. 

Um parêntese nessa história: ainda tenho na memória recente clientes em prospecção que resolveram “deixar pra depois” projetos digitais por considerarem irrelevantes ou fora de seus orçamentos. O quanto estão arrependidos! E aqueles que nunca apostaram em trabalho à distância? Absolutamente despreparados. Completamente diferente do ambiente de trabalho na BriviaDez, onde todos estamos acostumados ao trabalho remoto, com escritórios em todo lugar do mundo e com o #modonomadeativado.

Incorporei em meu comportamento profissional ideias que me ajudaram no desenvolvimento de um (na minha humilde opinião) bom desempenho da criação. Antes de listá-las, vale dizer que tenho uma equipe incrível. Solícitos, inteligentes, talentosos e, acima de tudo, sempre dispostos a aprender e compartilhar conhecimento e experiência. Isso facilitou muito minha vida. Vamos à lista:

1 - Onipresença

Deus me livre, mas quem me dera! Sempre procurei estar em vários canais de comunicação ao mesmo tempo. Ou seja, não ter apenas um ponto de contato. Pode ser enlouquecedor no começo, mas, depois que você se acostuma, a rotina de trabalho com os colaboradores flui bem. Aprendi que as pessoas possuem seus canais preferidos para se comunicar de forma mais verdadeira. 

2 - Canal aberto

Mesmo com uma demanda grande de jobs, é sempre relevante dar prioridade aos chamados da galera. Tento sempre responder no menor espaço de tempo possível qualquer um, mesmo que seja um "me dá 10 minutos?". 

3 - Feedback constante

Esse ponto é importantíssimo, principalmente neste período que não temos para onde ir e sem opções de diversão. Aproveitar um tempo para saber sobre a vida do colaborador o faz sentir-se mais seguro e cuidado. 

4 - Estimular a criar

Ferramentas e missões neste momento são essenciais. Para nós, que trabalhamos em esquema de squads, criando para nossos clientes todos os dias, viajar por outros ares é sempre libertador. Instigamos e provocamos discussões além de briefings e pautas. Ter um canal onde guardar as ideias também é sempre interessante: um arquivo compartilhado e um board online são algumas opções.

5 - Interações além da equipe

Buscar outros atores dentro da agência e colocá-los em discussões de comunicação é algo que sempre busquei e deu muito certo. Envolvendo profissionais de outras áreas em brainstorm, por exemplo, faz com que as ideias ganhem profundidade e relevância.

6 - Confiança

Dar à sua equipe a autonomia para resolver problemas é fundamental. Afinal, muitas vezes, não conseguimos acompanhar todos os jobs. Comecei a me surpreender com a melhora constante do nível de qualidade das entregas quando dei mais espaço para a criação e sustentação da equipe. O time passou a ser mais sênior, e a agência ganhou ao ter pessoas que possam segurar uma apresentação. Todos trabalhamos para entregar o melhor e mais criativo trabalho.

7 - Nomes aos bois

Como tudo está digitalizado, na nuvem, muitas vezes não se sabe quem foi que criou tal peça ou ideia. Quando o momento aparece, sempre procuro elogiar e dar o crédito à pessoa responsável.

8 - Reuniões constantes

Sempre é bom manter periodicamente encontros – individuais ou em grupo – com o time. Aqui, entra o papel das scrum masters incríveis que temos e ajudam nessa tarefa de organizar o fórum para saber como anda o ânimo do grupo junto aos clientes e jobs.

9 - Humildade

Sempre procure mostrar suas ideias para as pessoas e tente fazer com que deem feedback. É fundamental para estimular o debate e para que elas percam receio de expor suas opiniões. Todos saem ganhando.

10 - Flanelinha

Como não podemos dar aquela espiada básica no monitor, manter uma dinâmica de pedir constantemente o status de trabalho das pessoas para saber o que estão fazendo naquele exato momento é importante. Isso ajuda a corrigir rotas e saber de tudo o que está se passando com seu time.

Enfim, todo esse esforço me fez enxergar como sempre podemos melhorar na condução de uma equipe sendo líderes cada vez melhores em quaisquer circunstâncias. Recomendo pensar em sua listinha também, meu colega. Pois, fazendo a minha, pensei em um tipo de protocolo e boas práticas que nem imaginava que tinha. Vamos nessa?

Publicado originalmente em 13/08/2020 no Acontecendo Aqui