Ao refletir sobre meu início no mercado, lembrei-me de uma mudança repentina de rumo na carreira, há algumas décadas. Chamou minha atenção a matéria do periódico The Shift, que analisava um estudo da Accenture, sobre a expertise tecnológica nos conselhos e no C-Level dos bancos. O levantamento apontou, em 2015, que apenas uma a cada 10 pessoas que integravam a diretoria de instituições financeiras conhecia o suficiente de tecnologia. Somente 6% eram capazes de fazer as perguntas certas, para guiar a transformação digital. Em 2021, o mesmo estudo traz uma leve — mas tímida — melhora.
Esses dados levam à pergunta do século: e agora? Como esperar que a expertise em digital seja realmente considerada, com tantos decisores sem capacidade de entender o tamanho desafio? Quando ingressei na faculdade de Artes Plásticas (nem Publicidade era), a única certeza que tinha é a de que não usaria computador para fazer o que queria da minha vida: desenhar. Hoje, isso chega a soar ridículo — visto que, profissionalmente, não só dependo de ferramentas tecnológicas como desenho em um tablet no tempo livre. Uma ironia.
Na década de 90, quando entendi o potencial do mercado, não abandonei mais a ideia de me aprofundar em estudos e realizar trabalhos que ajudassem uma infinidade de empresas a encarar os desafios desse negócio. E cá estamos em 2021, e a reportagem do The Shift me fez pensar que temos a obrigação de nos reinventarmos. E, antes de implementar qualquer solução, entender o contexto, a cultura e a dinâmica de cada cliente para acertar a estratégia.
Isso nos exige estruturar uma proposta de valor que seja clara e, ao mesmo tempo, didática para avançar na direção do desenvolvimento de ferramentas e estratégias digitais. Por isso, a Brivia possui em seu DNA essa postura. Estamos sempre em aprendizado, nos provocando a enxergar o depois do amanhã, para ter em nossas ofertas as respostas para perguntas que podem até nem vir dos clientes, mas que nos fazem sempre inquietos e questionadores.
Porque uma coisa é certa: não é possível confiar em quem tem certeza de tudo. Como criativo, meu desafio é traduzir processos de trabalho, que muitas vezes são particulares, para que seja enxergado como valor agregado na oferta. E, aqui, listo cinco pontos para que isso aconteça:
1) O mais importante são os clientes dos nossos clientes
Precisamos sempre mostrar para as empresas que o mais importante é o que a comunidade está pensando, consumindo, interagindo — e não necessariamente sua diretoria. Temos, dentro da agência, profissionais incríveis que nos auxiliam nessa tarefa, às vezes ingrata. Não tenha medo de usar a área de BI, ou tecnologia, e principalmente a de design para montar uma proposta de campanha, por exemplo. Além de integrar os chapters, o resultado tende a ser muito mais relevante para o usuário. Parece meio óbvio isso, né? Mas dá um trabalho danado…
2) Duvidar de tudo
Sim, quantos Clubhouses já não nos passaram e achamos que seria a próxima grande ferramenta de contato com os clientes dos nossos clientes? Procure a discussão em grupo para estudar e entender todas as opções para depois propor algo. Muitas vezes, o cliente pede para “entrar” em algumas dessas. Nesses momentos, analise e veja se faz sentido, se a linguagem estaria de acordo com os valores da empresa e assim por diante. Esse exercício é enriquecedor para todos.
3) Pesquisar
Nunca ficar parado é a constante desse mercado. Também discurso velho, mas ainda funciona. Procure manter um time que agregue valor em muitas frentes. Profissionais que ajudem a agência em assuntos diversos, como tendências, design, usabilidade, comunicação e inclusão. Quanto maior o leque de assuntos abordados, maior a chance de acertar no planejamento de projetos.
4) Organizar
Ter sistemas para organizar esses pensamentos é muito importante. Sem isso, corre-se o risco de se perder nas discussões e não chegar ao objetivo do cliente. Na Brivia, usamos o Wrike e o Miro, entre outras ferramentas. E você?
5) Criar
Todos esses processos só não podem deixar a criatividade engessada. O cuidado em usar os métodos para ajudar na concepção de projetos é um ponto-chave para alcançar a relevância. Cada um tem seu tempo e maneira de criar. Eu, por exemplo, fiz anotações de madrugada que já me ajudaram muito em alguns jobs. Aliás, muita coisa escrita não tinha pé nem cabeça. Ou seja: aqui o grande lance é ficar atento ao que o mundo vai nos mostrando e se adaptar para responder o mais rápido possível a essas mudanças.
É preciso entender que, cada vez mais, somos o farol que guia as empresas nesse desafio de encarar a transformação digital. Sempre com a humildade de saber que devemos continuamente estudar e nos aprofundar. Afinal, o novo sempre pode ser melhor.
Artigo publicado originalmente em Portal Comunique-se