Guilherme Bello, Head of Strategy da Brivia, traz aprendizados da pandemia e de como superar a fragilidade da cadeia de suprimentos global
O mundo parou por conta de um vírus. Mais do que o impacto nas vidas perdidas, nas doenças desenvolvidas e nas rotinas transformadas, a pandemia evidenciou um grande problema: a fragilidade da cadeia de suprimentos global. É um desafio que deveria estar, há tempos, na mira dos empreendedores, mas aparentemente passou ao lado. E hoje, todos sofremos as consequências: aumento de preços por conta da falta de insumos de produção ou pela incapacidade de transporte de mercadorias ao redor do mundo.
Muito do que consumimos – e usamos para produzir – vem do outro lado do mundo. Com a intenção de buscar eficiência de custos, a maioria das empresas centralizaram seus fornecedores na Ásia. Como bem pontuou John Maeda em sua palestra no Web Summit deste ano, a concentração da produção tem dois efeitos: um positivo e outro negativo. Por um lado, leva a um ganho considerável de eficiência, que torna o fornecimento mais barato. No entanto, esse formato também torna tudo mais frágil. Quando tudo para, a cadeia simplesmente quebra.
Trata-se de um problema que não se limita ao preço dos combustíveis ou dos alimentos. Há um desafio ainda mais grave: a escassez de chips, que tem sido chamada de “crise dos semicondutores”. Você pode não perceber, mas absolutamente tudo o que fazemos hoje – do trabalho ao cotidiano doméstico – depende de chips. Sem eles, mais uma vez, o mundo pode simplesmente parar.
Durante sua palestra no Web Summit, o CEO da Arm, Simon Segars, apontou um cenário quase catastrófico. A indústria de chips, apesar de cíclica, nunca passou por um problema tão grave na sua cadeia de suprimentos como agora — a indústria automobilística que o diga. Pior: ninguém sabe se, ou quando, conseguiremos consertar esse contratempo. Assim como a maioria das indústrias globalizadas, a cadeia de suprimentos dos chips é muito centralizada na Ásia e de difícil escalabilidade.
O que precisa ser feito é o mesmo que o varejo vem fazendo há anos para buscar melhorar a experiência dos consumidores na era digital: construir uma cadeia resiliente. Uma rede de fornecedores locais prontos para atuarem como backup de uma estratégia central de eficiência. Traz mais custos, sim, mas permite adaptações rápidas – o que tornaria a cadeia, a experiência e o resultado mais robustos e confiáveis. Isso vale para momentos de estabilidade e, principalmente, de incerteza. Afinal, não se sabe atrás de qual esquina está a próxima pandemia.
Artigo publicado originalmente em Metrópoles